O PIKI EM MAMBAÍ - 2015

Visão da Serra Geral com o Vale do Paranã ao fundo


O cerrado é a savana com a maior biodiversidade do planeta. Além de uma infinidade de espécies compreendendo a sua complexa vegetação, apresenta uma rica fauna que abriga vários animais em extinção como a onça pintada, a onça parda e o lobo guará. Além de dar morada a animais como o tatu bola,  o tamanduá bandeira e o mirim. É um ambiente onde vivem diversas aves como corujas, papagaios, tucanos, siriemas e outras dezenas de pequenas plumosas.


Serra Geral 
                       
                                  
A Reserva da Biosfera do Goyas é uma extensa área de cerrado compreendida pelo Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, pelo Parque Estadual de Terra Ronca e pelo Parque Municipal de Itiquira. Ela engloba os maciços da Serra Geral do Paranã, todo o vale do Rio Paranã, seus afluentes e os contrafortes da serra, já nos limites com Bahia e Minas Gerais. É conhecida pela beleza de suas cachoeiras e inúmeras formações rochosas areníticas e calcárias. São catalogadas várias cavernas na região, incluindo as maiores e mais bem ornamentadas do país. Esses atrativos criaram nessa região um novo polo de ecoturismo e de ecoaventuras.


 Piki da trilha no Vale do Paranã
                         
                      
Mambaí é um município do nordeste do estado goiano, quase na divisa com a Bahia. Tida como a nova fronteira do turismo de aventura do centro-este. Toda a região é cercada de atrativos turísticos, ainda pouco conhecidos e pouco explorados.


Cachoeira do Alemão em Mambaí


Meu compadre Marceleza e eu (LuisinhoDedoDeLata) decidimos conferir algumas dessas belezas naturais. Assim traçamos o nosso cicloplano: O Piki em Mambaí 2015. Depois de estudar as atrações da região e as aventuras que uma agência de turismo da cidade oferecia, ficou fácil convencer a minha adorável esposa (Adélia) de participar dessa empreitada e levar os nossos filhos sapecas conosco (o Luca e a Lis). Foi escolhido o feriadão de Corpus Christi como data para a viagem. O ponto zero do pedal seria em São João d'Aliança, pois é o  portal da Chapada dos Veadeiros e está localizada  nos limites da Serra Geral, onde é fácil o acesso ao Vale do Paranã. 


Bikes enchendo os tanques em São Gabriel



Na noite do dia 03/06 seguimos de carro pela BR 020 até o trevo com a GO 118 e viramos no sentido de São Gabriel. Acomodamos-nos no Atos Hotel, que fica na beira da rodovia já em São João d’Aliança.

04/06 – São João d’Aliança a Flores de Goiás  - 101,32 km


Marceleza e Luisinho no hotel em São João d'Aliança


Sem acordar a muié e as crianças tomamos o café às 05h30min, montamos nas bikes e partimos em direção a descida da Serra Geral para chegarmos no Vale do Paranã. Paramos numa padoca (padaria) vizinha do hotel para nos abastecer de eletrolíticos. Numa mesa ao lado, um senhor arregalou os olhos quando soube que íamos pra Mambaí de bike: "Nossa! Tem muito chão até lá. Só cascalho solto e muita ponte caída pra donde ocês vão passar." Tentou nos desanimar, mas ele não sabia que é assim que a gente gosta.


Em direção das encostas da Serra Geral



Seguimos inicialmente por uma pista na esquina do hotel em direção aos limites da cidade e logo pedalávamos numa estrada de terra por entre sítios e fazendas.

O sol ainda não esquentava no horizonte quando o terreno ficou mais acidentado, com subidas mais íngremes e singulares afloramentos de rocha nos dois lados da estrada. Era um sinal que os limites da Serra Geral do Paranã se aproximava. A essa altura a vegetação de cerrado ficou mais preservada e não se observava cercas de arame ao nosso redor. Chegamos a um elevado onde observamos o Vale do Paranã por entre uma grande fenda da serra. Estávamos a aproximadamente 1200 metros de altitude e o vale localizava-se próximo aos 500 metros de altitude, seria uma diferença de 700 metros de descida rápida por entre as encostas da serra. 


Serra Geral e o Vale do Paranã



A estrada vai serpenteando e ziguezagueando o terreno, proporcionando as vistas mais bonitas de toda a viagem, pois do alto enxerga-se as curvas da estrada lá em baixo.  Descemos despinguelados pelo Dowhill da Boca da Onça. É uma descida com várias curvas, sem nenhum platô pra um descanso ou um breve alívio. É o tempo todo com a mão grudada no punho do guidão, o dedo na manete do freio e as bengalas da suspensão dianteira trabalhando bastante.  Depois de muita poeira chegamos a uma baixada onde as sombras das arvores nos lembrou alguns trechos da Estrada Real em Minas Gerais. Paramos na frente da porteira da Fazenda Cachoeirinha e lá, fotografamos toda a grandiosidade dos paredões da Serra Geral.


Descida da Serra Geral


Dowhill da Boca da Onça


Fazenda Cachoeirinha no Vale do Paranã



Logo chegamos a um riacho de água cristalina que corria por um leito de pedras arredondadas e avistamos a primeira ponte caída da estrada.   Pedalamos mais uns poucos quilômetros e já estávamos no entroncamento  com  a GO 116. Ela que vem de Formosa e segue até a cabeceira do Rio Macacão. É também conhecida como Estrada das Pontes, pois atravessa vários córregos pelo vale e muitas dessas estão caídas.


Travessia de um dos vários córregos com as suas pontes caidas 


Seguimos até o assentamento Santa Maria e no Armazém da Dona Dalva, gastamos um dedo de prosa. Nós falamos da poeira da estrada e ela da dureza da vida por aquelas bandas. Tomamos um refrigerante gelado, reabastecemos nossas garrafas de água e seguimos em direção da barragem do rio Paranã. Contornamos o canal e passamos sobre o dique ao lado da lâmina d'água contemplando a imensidão da represa.


Vagens de "Favela" secando ao sol no quintal da Dona Dalva


Armazém da Dona Dalva


Barragem do Rio Paranã

Retornamos para a GO 116 e com 15 km de pedal chegamos ao entroncamento com a GO 236 que vai até Flores de Goiás. Foram os 10 km mais sofridos da viagem. Além de não ter nenhuma atração durante o percurso, havia um mato alto nos dois lados da estrada e com infindáveis costelas de vaca até as imediações da cidade. Quando o ciclocomputador marcou 98 km vimos os primeiros sinais de Flores. Foi um alívio!


O Piki na sombra de um pikizeiro nas marquens na GO 116


Entrocamento para Flores de Goiás



Paramos numa padoca pra tomar um suco e em seguida procuramos um pouso. Ficamos na Pousada do Bodão, num quarto simples, porém com ar condicionado. Lavamos a sujeira do corpo, tomamos um açaí numa birosca na esquina e como ainda eram 16h00min da tarde, esperamos escurecer para jantar.

05/06  -  Flores de Goiás a Mambaí  -  128,59 km

Matriz de Flores ao amanhecer


Praça da cidade de Flores


A pousada só servia o café da manhã após as 7 horas, saímos então com o sol alto. Aproveitamos para fotografar na praça e na igreja da cidade. Novamente na GO 236, no sentido de Alvorada do Norte, notamos a ausência de carros ou caminhões, a pista era bem regular, passando por entre fazendas de gado e grandes áreas de cerradão bem preservado. Passamos por densas matas onde o barulho de micos e outros símios anunciavam a nossa chegada.



Muro de uma escola na saída da cidade

Na frente da porteira da Fazenda Regalito, paramos num abrigo todo estiloso, feito de aroeira bem talhada e telhas francesas bem organizadas. Ficamos ali lanchando e imaginando como seriam as dependências e a sede da Fazenda. Dali pedalamos por um platô bem plano muito arenoso com uma vegetação seca e rala.


Entrada da Fazenda Regalito


Contrafortes da Serra Geral próximo a BR 020


Quando marcava 60 km de pedalação avistamos os contrafortes da Serra Geral. Cortada pelo Rio Corrente, onde se ergue a cidade de Alvorada do Norte na sua margem esquerda e a cidade de Simolândia na sua margem direita. Logo chegamos à BR 020 e paramos num posto de gasolina para descansar e lanchar. Uma atendente da lanchonete nos falou com um ar de ironia: "Ocês vão pegar muitas subidas até Mambaí..." Pairou um silêncio nas nossas cabeças. Achei por um instante que ela queria nos zoar ou nos encorajar a pedir alguma carona. Mas como não tínhamos escolha, montamos nas bikes e seguimos.


Chegamos em Alvorada do Norte



Dali pedalamos no acostamento da BR até o trevo de Buritinópolis e seguimos na  GO 108 sem acostamento. Ainda faltavam 45 km até Mambaí. Poucos carros cruzaram por nós. Comprovando que a região ainda não é muito explorada pelo turismo, pois estávamos no meio de um feriado prolongado e aquela região é relativamente próxima de Brasília (aproximadamente 300 km).  

Chegando em Mambaí


Mambaí está localizada a 722 metros de altitude e as palavras da moça da lanchonete ecoavam nas nossas mentes a cada nova subida. Repetíamos sempre: "Ela nos avisou!! Não foi falta de aviso!!" Ao chegarmos na cidade,  fomos direito até a Agência Mambaí Adventure para saber do paradeiro da Adélia e das crianças. Paramos numa lanchonete e pedimos um açaí com banana e granola e seguimos para a Pousada. Arrumamos as bikes, lavamos o caldo do couro e deitamos para descansar um pouco e esperar que a muié e as crias chegassem das cachus e matássemos as saudades. 


Mambaí

06/06 e 07/06  -    Mambaí

Na frente da Pousada Maredu

Agora com a família reunida, dispensamos as bikes e a prioridade era dar atenção para as “crionças”. O compadre Marceleza e eu revezávamos nessas responsabilidades, pois a Adélia já estava cansada de levá-los pelas trilhas naqueles dois dias. Logo cedo seguimos para a Cachoeira do Funil. Caminhamos por entre afloramentos calcários que criam formas fantásticas pela ação do tempo. A cachoeira do Rio Ventura cria uma dolina semicircular no paredão calcário, formando um sumidouro do seu leito e uma pequena caverna. A resurgência vem logo uns metros à frente, dando continuidade ao rio por entre a mata ciliar. O lugar é muito procurado para a prática do rapel e do pendulo.


Rochas calcárias na trilha


Cavernas


Marceleza fazendo rapel na Cachoeira do Funil


Cachoeira do Funil


No domingo pela manhã fomos fazer uma tirolesa que fica numa reserva no município de Buritinópolis. É a  mais alta do Brasil com 102 metros de altura e 320 metros de extensão. O vôo acontece atravessando um cânion, onde no fundo observa-se um córrego e uma exuberante mata. Os paredões ao redor criam um clima mágico e as trilhas que descem por suas encostas, levam a inúmeras cavernas e pequenas quedas d'água. Fomos por uma pequena trilha que nos levou  num mirante, de onde podemos ver a junção do cânion da tirolesa com outro de menor tamanho, mas de mesma beleza. Esse acidente geográfico forma um enorme “Y” nas rochas, criando um ambiente grandioso e mágico.


"Y" do cânion da tiroleza


Saímos dali e fomos a Cachoeira do Alemão localizada numa propriedade particular a 12 km de Mambaí. A queda deve ter uns 15 metros de pura beleza, forma um bom poço para banho com uma fina areia branca, onde as crianças se esbaldaram de brincar.


Cachoeira do Alemão


Depois do almoço chegou à hora de arrumar as tralhas, pagar as contas na agência e voltar pra casa. Tinha acabado a nossa cicloaventura: Piki em Mambaí 2015.   


Mambaí 2015