O PIKI NA PICADA DE GOIÁS

 O Piki da Trilha na Picada de Goiás

O PIKI NA PICADA DE GOIÁS  
BSB - GOIÁS   jun / 2009


Cicloturismo de Bsb até a cidade de Goiás, a bela terra da peotisa Cora Coralina.
Estradas, caminhos e picadas no sertão. Como relatou Darcy Ribeiro:

“Mundo goiano meu de velhas estradas minhas, acabadas, perdidas. As estradas novas, alheias, aí estão cruzando tudo. Se fazem e se refazem, retíssimas. Asfaltadas, caminham correndo em cima de automóveis, velozes, sem saber se o cerrado está seco ou florido. Sem ver ninguém. Ou só vendo uma pedra, uma casa, um poste na beira do caminho. Aquilo é um homem, uma mulher ou uma coisa?”

A “Picada de Goiás” ou “Caminho do Sertão” foi umas das Estradas Reais surgidas no Brasil no século XVIII, durante o ciclo da mineração. No século anterior, os bandeirantes paulistas, à procura do dourado metal, criaram povoados como: Arraial de Sant’Anna (Villa Boa de Goiás), Arraial de Meia Ponte (Pirinópolis), Arraial de Nª Senhora da Penha do Corumbá, Arraial de Montes Claros (St° Antônio do Descoberto), Arraial de St° Luzia (Luziânia), Paracatu do Príncipe e etc.
Em meados de 1750 a Coroa Portuguesa eleva a região a Capitania de Goiás com capital em Vila Boa e determina a abertura de uma estrada interligando esses povoados ao Rio de Janeiro. Era origem da Picada de Goiás.
Este sertão era morada de índios Goyás e Caiapós, e vários Quilombos existiam pelo caminho. Os desbravadores demarcaram a estrada, e deixaram um rastro de destruição e massacres pelos chapadões.

Piki da Trilha
Na poeira dessa história, intrépidos pedaloucos de Brasília do grupo Piki da Trilha: EliasContadorDeEstórias, DelhaGatinha e eu, LuisinhoDedoDeLata, decidimos cicluturear e conhecer parte do que um dia se chamou: O Caminho de Goiás.  
      
11/06/2009    -   1° dia     LIGEIRAMENTE GRÁVIDA

Foi numa dessas manhãs, onde o frio corta o casaco e rasga o couro da venta com seu enregelamento, que de Brasília, sapecamos as canelas nos pedivelas e rumamos pra cidade da inspirada poetisa goiana Cora Coralina.
Na noite anterior, um farto rega-bofe promovido e conduzido pela DelhaGatinha - experiente personalidade  na divina arte do forno e fogão. Esse dom dos quitutes foi coisa das boas, transmitida via DNA. Advindo dos mirabolantes dotes de seu genitor e mago das colheres dos mestres cucas, o famoso JoaquimMãoDeTempero.


Pelas estradas de Goiás
Saímos cedo como de costume, bike tinindo, alforje arrumadim e gorro nas oreia pra num torá de frio.
Rumamos, ainda escuro, pras bandas de Sto. Antônio do Descoberto pela BR 060. Tudo ia muito bem, e melhorou mais ainda, pois luz da alvorada lambeu os vales verdes do Descoberto e do alto da DF 280, contemplamos singela pintura.

Parada na Cidade Eclética para hidratar


Tem muito chão ainda

Parada na cidade Eclética para uma eclética hidratação e
forração do bucho. No sobe e desce dos tobogãs no cascalho do cerrado, a poeira subiu ao passarmos ao largo da porteira da Fazenda Preto Velho. Ao longe se ouviu o esturrar de onça e o miar da jaguatirica. Estávamos chegando a Aparecidinha de Loyola.


Vamos secar as canelas nos estradões desse mundão véio sem porteiras
Olha o esturro da onça!!

Igrejinha de Aparecidinha de Loyola

DelhaGatinha deu os primeiros sinais de cansaço. Não sabíamos que além do alforje, ela carregava no seu ventre o mais novo integrante do Piki, o LucaSapeco. Ainda nem apontava por baixo da camisa, mas já fazia o seu primeiro cicloturismo nadando na barriga da sua mãe.

Luca já "nadava" no ventre da Adélia na sua primeira cicloviágem
 Quando subimos as pedreiras da Serra dos Pirineus, parecia que ela levava uns 10 sacos de cimento Votorantim de Cocalzinho, amarrados no seu bagageiro. 

Tobogã do trajeto da Estrada Colonial antes de chegar em Cocalzinho
Em Pirenópolis corremos para a Pensão Padre Rosa.  Parada oficial dos ciclistas para repor as gorduras queimadas nas trilhas. Depois fomos pra Pousada Beija-flor relaxar as canelas.

O Verde da Sempre Viva no meio do Cerrado e da estrada


Estamos no Parque Estadual da Serra dos Pirineus


Formações rochosas do parque


Rango da Pesão do Padre Rosa em Pirenopolis


O entardecer na cidade de Pirenopolis

12/06/2009     2° dia     NA TRILHA DOS TROPEIROS



Na Pousada arrumando as tralhas

Saída de Pirenópolis reabastecendo os "comis e bebes" no mercadinho

Pela manhã, descansados e dispostos, seguimos pela saída de Goianésia. Quebramos a esquerda no entroncamento de terra da BR 070. As costelas de vaca da estrada, quase cairam com a nossa espinhela.


Atalho por entre fazendas para fugir das costelas de vaca da BR 070

A Picada de Goiás era um conjunto de vários caminhos que levavam ao mesmo destino. Então pegamos um atalho à direita por entre fazendas, riachos e pontes de madeira centenárias.


Passamos por pontes de madeira

Cortamos fazendas e cerradões

Um visual fantástico
Trechos de pedra talhada, como um calçamento no meio do nada. Estávamos girando, com nossas magrelas, numa rota de tropeiros. Mulas, riquezas e escravos por ali um dia passaram. Depois de muito cerrado, poeira e suor chegamos à BR 153 (Belém – Brasília). Logo estávamos nas antigas terras das aldeias dos índios Jaraguás. Hoje apenas conhecida como a cidade de Jaraguá, pólo da industria de confecções de Goiás.


Vá de bike


No restaurante do posto, enchemos o pandu. Depois fomos nos esticar na sombra e regar o couro com a água morna do Hotel Shalom.


Ufa!! Chegamos em Jaraguá
Ao escurecer saímos a pé pra procurar um sorvete e gelar as goelas. Daí, melhor prosear da pedalação do dia.


Antes de dormir pizza e sorvete pra rebater


13/06/2009    -     3° dia      SERRA DOURADA DE GOIÁS

Sai do Hotel sem entregar as chaves...

No caminho da cidade de Goiás pelo asfalto

         Com as orelhas e cangotes embatumados de protetor solar, seguimos ao raiar do dia em direção a Serra Dourada. Paredão onde o bandeirante Anhanguera, viu um dia refletido os mesmos raios do astro rei, que nele se fez uma cor dourada igual ao do metal que ele tanto cobiçava. Daí o nome “Serra Dourada”, nas cercarias da cidade de Goiás.


Visual na estrada
Giramos pra saída da cidade pela GO 427 rumo a Itaguaru e depois pela GO 154 para Itaguari. De volta a BR 070, asfaltada e com largo acostamento, seguimos pra Itaberaí. Dois pensamentos passavam pelas tiras do meu capacete: Em “Ita” que em tupi-guarani significa “pedra”, e no poema de Carlos Drummond de Andrade, um grande amigo de Cora Coralina:

        “...tinha uma pedra no meio do caminho
             No meio do caminho tinha uma pedra.”    


Molecada nos acompanhando nas cidades
         
Ali giramos por intermináveis tobogãs num asfalto ruim e muito remendado.               
A região possui grandes projetos de agroindústria e as estradas não estão agüentando o tráfego dos caminhões.  
De repente, aparece no acostamento, um tapete de amendoins secando ao sol. Foi um sinal para a parada de hidratação e reposição de “calorias”.


Secagem de amendoim no acostamento da rodovia

Seguimos em passo maneiro pra não cansar os costados e a lombar, já que a soleira castigava.


Última subida pra chegar na cidade de Goiás

Muito ainda se falou e sobe e desce se passou até enxergarmos a Serra Dourada de Vila Boa e o fim da Picada de Goiás.


Serras que rodeiam Goiás Velho

Entramos serelepes pedalando no calçamento irregular do centro histórico da velha capital. Passamos pelo antigo prédio da câmara e cadeira, e nos jogamos no gramado em frente ao Chafariz da Boa Morte da cidade de Goiás. Mortos de cansados e de fome, mas felizes pelo fim do desafio.

Descanso na frente do Chafariz da Boa Morte da cidade de Goiás

Prédio do antigo fórum e cadeia da cidade
O fiel amigo pedalante DanielDesceTudo, nos esperava numa sombra a beira do casario colonial, para o estratégico resgate da intrépida trip.


 O DanielDesceTudo veio nos resgatar

Anhanguera, quando chegou às margens do rio Vermelho, pôs fogo num cuia de aguardente. Os gentios se impressionaram, acharam que estavam diante de um Deus. E levaram o astuto bandeirante, ao local onde recolhiam as lascas de ouro, que adornavam os colares das suas índias.


Fogão de lenha da cozinha de Dona Morena
Impressionados ficamos, ao sentir o delicioso aroma que vinha das panelas no fogão à lenha de dona Morena. Era a hora de forrar o bucho.


Piki da Trilha com o Bucho já forrado


Depois de lavarmos a poeira grudada no couro. Deixamos os becos de Goiás. Os mesmos becos, cuidadosamente descritos nos poemas da doceira Cora Coralina.

Descanso de magrelas

Adélia na Janela

Casario goiano



VÁ DE BIKE, PRATIQUE CICLOTURISMO.