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Mirante do Vale do Rio Verde
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14/02 – Brazlândia /DF –
Cocalzinho/GO - 121,83 km.
De
repente ouve-se um leve zumbido que vai lentamente crescendo lá no fundo dos
tímpanos. As pálpebras abrem-se preguiçosamente no escuro da madrugada, aí vem
à certeza: É o alarme do celular avisando que são 03h45min da madruga. Cedo
para a maioria dos cidadãos, o fim de festa para os foliões no início do
carnaval e, para quem vai pedalar mais de 100 km pelo Goiás, o momento
certo de pular da cama.
A
bike está tinindo, toda regulada, lubrificada e com o alforje na garupa. Só
falta forrar o bucho e tomar líquidos até estufar os olhos. Embalo meia dúzia
de batatas cozidas com sal, umas bananas desidratadas, mais alguns gels e agora
está tudo certo.
O
compadre Marceleza e eu (LuisinhoDedoDeLata) estamos mais uma vez a caminho de
Pirenópolis de bike. É o “CARNAPEDAL 2015”.
O
plano era no primeiro dia pedalar até Cocalzinho - GO pela Estrada Colonial saindo
de Brazlândia – DF. No segundo e no terceiro dia, giraríamos pelos arredores de
Cocal e Piri. No quarto dia de carnaval voltaríamos pedalando pra Brasília por
Aparecidinha de Loiola e Santo Antônio do Descoberto-GO. Perfazendo um total de
aproximadamente 400 km
de pedalança.
Meu relógio já marcava 04h40min quando a minha “incansável
esposa” Adélia dirigia o nosso carro até a casa do nosso compadre no Cruzeiro -
DF. Já com todos embarcados, seguimos até o ponto zero do pedal. As estrelas
ainda cintilavam no céu quando a muié nos largou no entroncamento da BR 080 com
a DF 001. Montamos nas magrelas e seguimos pela DF 001 e depois pela DF 430 em
direção a cidade de Brazlândia. O frio estava de rachar os cambitos, doíam os
ossos e pingavam gotas de orvalho condensado da viseira dos nossos capacetes.
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Posto na BR 080 em Brazlândia
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Chegamos
com o dia clareando ao Posto Ipiranga da BR 080. Depois de um bom café amargoso,
pegamos o rumo do núcleo rural Padre Lúcio já em terras goianas. Nosso objetivo
era chegar ao povoado da Baixa do Rio Verde. Estávamos agora pedalando pela
“Estrada Colonial do Planalto Central”.
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Piki da Trilha no Carnapedal 2015 |
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Vale do Rio Verde |
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Passagem pela Ponte do Rio Verde
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Subida para o Mirante da Baixa do Rio Verde
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A
Baixa do Rio Verde é um pequeno aglomerado de simples casinhas e perdido no
meio de um vale cercado de colinas. A vida por ali passa bem devagar, a única
pressa era a nossa de chegar ao mirante que está a aproximadamente 1.150 metros de
altitude enquanto a Baixa está nos 750 metros. Nossas línguas quase lambiam as
rodas dianteiras quando chegamos lá no alto. Foi recompensador, pois o mirante
é um grande platô de rocha, possibilitando uma visão de quase 180 graus de todo
o vale do Rio Verde, dos chapadões ao redor e da estrada que nos levou até ali.
Visual do vale por onde pedalamos até chegar ali
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Descida do Mirante |
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Trajeto da prova internacional de MTB dos 70 km de Ceilândia 2015 |
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Entrada da Fazenda Girassol, ponto zero da prova de MTB dos 70 km 2015 |
Pousamos
no Hotel São José, guardamos as bikes, lavamos a poeira do corpo e formos comer
umas pamonhas na tia da esquina. A fome era tanta que foram as melhores
pamonhas das nossas vidas. Depois foi só escurecer, caçar uma jantinha na
cidade e esticar o esqueleto pra mais um dia de pedal.
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A pamonha mais maravilhosa de Cocalzinho |
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Igreja matriz ao entardecer em Cocalzinho
15/02 -
Cocal – Piri – Cocal - 80,47 km.
O
amigo Olivier ficou sabendo da nossa cicloaventura e resolveu se juntar a nós
nessa empreitada. Às 7 horas lá estava ele conosco no hotel para tomar o café
da manhã. Ele veio de carro de Brasília, pois só tinha aquele dia disponível
para o pedal.
Olivier junta-se a trip
Pegamos
a direção do Parque Estadual dos Pirineus, pedalamos até o mirante e voltamos
para o entroncamento da Cachoeira dos Buritis. É uma descida longa e rápida com
muitas curvas e valas. Seguimos para a Fazenda do Lázaro, lá encontramos o
casal Paulão e Lelê do grupo Coroas do Cerrado de Brasília. Eles nos guiaram
pelos singletracks da Fazenda, pelas
subidas e descidas técnicas, até chegarmos ao alto do Morro do Frota. De lá foi
só soltar os freios e descer até a cidade de Pirenópolis. Despedimos-nos dos
colegas dos “Coroas” e giramos pela cidade.
Entrocamento da BR 070 e a entrada do Parque Estadual dos Pireneus
Morro do Cabeludo no Parque
Pasto da Fazendo do Lázaro
Singletracks pelo Zen
Paramos
para comer um empadão goiano, tomar um suco de laranja e relaxar, quando caiu
um temporal que lavou todas as ruas da cidade e as nossas bikes. Numa breve
estiada pegamos a direção do Parque e subirmos em direção ao mirante. Agora
fazendo no sentido contrário, pois estávamos voltando para Cocalzinho.
Paulão e Lelê dos Coroas do Cerrado foram os nossos guias nas trilhas da Fazenda
Enpadão goiano para repor as energias
Temporal para lavar as ruas e as bikes
Já
no Hotel São José, lavamos a lama do corpo, nos despedimos do Olivier e fomos
nos encontrar com a Adélia e os meus filhos Luca e Lis. Eles estavam hospedados
no Hotel Fazenda Tabapuã dos Pirineus no município de Cocalzinho, para passar o
feriadão do Carnaval. Ficamos na fazenda brincando com as crianças, descansamos
um pouco, jantamos e a Adélia nos levou de volta para a cidade, pois no dia
seguinte tinha mais pedal.
Igreja de São Judas Tadeu na saída do Morro do Frota
16/02 -
Cocal – Piri – Cocal - 61,66 km
Havíamos
planejado pedalar até a Cidade de Pedra e pelos seus arredores, mas o pedal do
dia anterior tinha sido tão legal, que mudamos de idéia e resolvemos repeti-lo.
Porém agora sem tantas voltas, faríamos somente as partes divertidas do
percurso.
Pedal no estradão da BR 070
Poço e Cachoeira dos Buritis
Bikes na Piramba
Pegamos
a BR 070, passamos pela entrada do Parque e seguimos em direção ao Poço dos
Buritis. Logo estávamos na Fazenda do Lázaro. Cruzamos os pastos, subimos as
pirambas técnicas do Zen, passamos
pelos singletracks e downhills do Morro do Pedro. Antes de
chegarmos ao Morro do Frota, uma moçada de MotoCross
cruzou por nós, um dos pilotos acelerou muito numa poça da estrada e a sua moto
fez um giro de 180° se chocando violentamente no barraco. O cara nem se
machucou muito, além do seu próprio ego. Pensei que se nós estivéssemos um
pouco à frente, ele teria nos acertado em cheio e acabado com todo o
passeio.
Marceleza nas subidas técnicas da Fazenda do Lázaro
Luisinho seguindo pelos singletracks da Fazenda
Agora acabou a parte técnica e é só soltar os freios nas descidas...
e descer os morros com os dentes trincados
Descemos
mais uma vez o Morro do Frota despinguelados, cruzamos Pirenópolis, comemos
mais um empadão goiano, subimos os 8
km até o mirante e paramos na bica do Seu Zuca, na beira
da estrada, para reabastecer os Camelbaks
e as garrafas com a água fresca da nascente. Atravessamos todo o Parque dos
Pirineus e tomamos a direção de Cocal para ainda pegarmos o almoço no Hotel.
Bica do Seu Zuca com água pura da nascente
A bica fica na beira da estrada que corta o Parque dos Pireneus, mas pouca gente conhece, pois passa direto sem olhar
Chegamos cedo para pegar o almoço no Hotel de Cocal
Descansamos
um pouco a tarde foi quando percebi que o tempo estava fechado, com muitas
nuvens escuras no céu. Era um sinal de chuva pra aquela noite e tínhamos que torcer
por amanhecer com o céu limpo. Jantamos na praça e fomos dormir com a esperança
de o dia seguinte estar pedalável.
Descanso no quarto esperando mais um dia de pedal
17/02 -
Cocalzinho – Brasília de carona.
Às
6 horas acordei com o barulho da chuva na varanda. Dei uma olhada na janela o
só via a cortina d’água descendo. Era desanimador sair pro pedal debaixo de um
temporal. Fomos para o café ainda na torcida para estiar o suficiente pra
começarmos um pedal seco, pois mesmo que chovesse no caminho ou nos molhássemos
nas poças da estrada já estaríamos com o corpo quente. Mas nada disso
aconteceu, a chuva parecia que só aumentava.
No café da manhã do Hotel e na expectativa da chuva passar
O
Marceleza decidiu ligar pro seu irmão Miguel e pedir um resgate, pois a Adélia e
as crianças ficariam mais um dia Hotel Fazenda e nós tínhamos que trabalhar. Senti
uma ponta de tristeza ao embarcar minha bike na caminhonete. Não seria daquela
vez que voltaríamos pedalando de Piri. O retorno foi de carro pelo asfalto como
muitas vezes nos “bate e voltas” de Pirenópolis. O céu azul só apareceu nas
imediações do Distrito Federal. Encerrando assim o Piki no Carnapedal 2015.
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