Blog para quem gosta de aventuras e viagens
Esse foi um projeto de sucesso do Piki da Trilha.
Estrada Real - Diamantina ate Paraty.
Estradas, causos e imagens.




DESAFIO NO CAMINHO DOS DIAMANTES


PIKIZEIROS NA ESTRADA REAL – 2007


Mapa oficial da Estrada Real 

            O termo Estrada Real (ER) refere-se preferencialmente aos caminhos abertos pelos sertões desde a descoberta do ouro e diamantes em Minas Gerais. As trilhas dos índios e os cursos dos rios serviram de orientação. Por ser, de propriedade da Coroa Portuguesa todas as vias oficiais de circulação de pessoas e mercadorias, constituía-se crime de lesa-majestade a abertura de novas trilhas. A Estrada Real que escoava as riquezas de Minas, dividia-se no Caminho Velho que ia de Paraty a Vila Rica (Ouro Preto), o Caminho Novo tendo como partida a cidade do Rio de Janeiro com o mesmo destino e finalmente o Caminho dos Diamantes que ligava Vila Rica a Diamantina. Existiam outras Estradas Reais como o Caminho da Bahia que ligava Salvador às fazendas de gado ao longo do rio São Francisco, chegando até o Mato Grosso próximo à fronteira com a Bolívia. Após o século XIX com o fim do ciclo de mineração, essas estradas se tornaram livres e foram a base da formação dos troncos viários do centro-sul do país.

            O desafio “No Caminho dos Diamantes” foi um projeto de alguns componentes do grupo “Moutain Bike Piki da Trilha”, de Brasília. Planejamento feito, descontadas as desistências, Elias, Marceleza e eu (Luisinho) iniciamos a aventura.  Na véspera da partida o Marcelo (Novinho) veio fazer parte da trip. Iniciaríamos em Diamantina, pedalaríamos até Paraty sem apoio, e voltaríamos de ônibus. Aproximadamente 1.200 km pelas estradas de Minas, São Paulo e Rio. Onde um dia começou a história do Brasil e onde nós escreveríamos parte da nossa.

De Brasília à Diamantina

Piki da Trilha na estada para Diamantina
07/09 - 1º Dia  -  De Brasília à Diamantina. - 740 km de carro.


            Antes do nascer do sol, pegamos a BR 040. Nosso almoço foi em Três Marias e ao chegarmos a Curvelo paramos para saborear o pão de queijo da Dona Sônia numa lanchonete na saída para Diamantina.
Chegamos ao nosso ponto zero à tardinha. Era feriado da Independência e a cidade estava quase vazia, com poucos estudantes pelas ruas misturados a alguns turistas. Fomos ao encontro do nosso contato, o Felipe, estudante de Geologia. Sua república era uma casinha na rua Samambaia, simples como qualquer casa de estudante, porém na rua mais alta da cidade, onde passamos a primeira noite.
Após o banho jantamos no Caipirão, onde o dono também possuía o Hotel Fazenda Salitre, próximo a Gruta do Salitre, localizada na Serra do Espinhaço, que forma o maciço, no qual a ER se desenha.

Já estamos chegando em Diamantina


Se ajeitando no chão do quarto da república


Nos arredores de Diamantina

Ladeiras de Diamantina
08/09 -  2º Dia  -  Nos arredores de Diamantina. - 32 km.


Lago do Hotel Fazenda Gruta do Salitre

Tínhamos muitas opções de lugares para visitar ao redor da cidade, dentre elas: Vila de Biribiri, o Caminho dos Escravos e a Cachoeira dos Cristais. Optamos em conhecer o povoado do Curralinho que apesar de não ter muitas atrações, ficava na saída para a ER. Próximo ao povoado existe uma pequena barragem onde dizem que Chica da Silva fazia os seus passeios de “Caravela”. Seguimos para o Hotel Fazenda do Salitre onde caminhamos por entre as formações rochosas e pedalamos até um antigo caminho de mulas, que nos levou a um abrigo chamado de Lapa dos Tropeiros.



Piki da Trilha na Lapa dos Tropeiros em Diamantina

A lapa, formada por grandes rochas, servia de pouso para os viajantes que seguiam pelo “Caminho da Bahia” até Diamantina. Hoje apenas serve aos que ainda insistem em garimpar no local.


Gruta do Salitre
 Mais tarde conhecemos a Gruta do Salitre e na volta para Diamantina nos hospedamos na Pousada da Gameleira. Após uma bela pizza no Restaurante Vagalume, acertamos os últimos detalhes para o início do desafio: “No Caminho dos Diamantes”.

Jantar no Restaurante Vagalume

De Diamantina à São Gonçalo do Rio das Pedras


Ponte sobre o rio Jequitinhonha

09/09   -  3º Dia  -  De Diamantina à São Gonçalo do Rio das Pedras - 36 km.



Piki da Trilha na saída de Diamantina

Essas são as "subiras reais" da Estrada Real
 Arrumamos os alforjes nas bikes e seguimos por entre as ladeiras até a saída de terra em sentido a cidade do Serro. Marcos de concreto do Instituto Estrada Real (totens) são posicionados a cada bifurcação para melhor guiar os viajantes. Após passarmos a ponte sobre o Rio Preto encaramos a primeira grande subida e vários bancos de areia.


Piki da Trilha na Estrada Real
 
Rio Jequitinhonha

 Passamos pelo povoado Vau e ao cruzarmos o Rio Jequitinhonha, deparamo-nos com um cânion, onde a erosão das águas desenhou uma superfície lunar em seu leito. Chegamos a São Gonçalo do Rio das Pedras no final de uma longa subida, e por entre casas coloniais e ruas calçadas com grandes pedras, surge a Matriz de São Gonçalo numa colina com um grande gramado ao seu redor.


Em fim chegamos a São Gonçalo

São Gonçalo do Rio das Pedras



Piki da Trilha do o Ademir e a Esposa em São Gonçalo do Rio das Pedras

O ar aconchegante e tranqüilo é completado pela cachoeira do Comércio no Rio das Pedras e os seus pequenos moinhos de farinha no outro extremo da cidade. Almoçamos no restaurante do Ademil, que produz licores de várias flores e frutas cultivadas em seu quintal. Sua esposa Aparecida nos deu pouso em sua pousada e jantamos na única pizzaria do lugar, montada por um paulistano que largou tudo e ali recomeçou a sua vida mais feliz e tranqüila.


Moinho  próximo a cachoeira do comércio




De São Gonçalo do Rio das Pedras ao Serro


Piki da Trilha na Estrada Real
 10/09   -   4º  Dia   -  De São Gonçalo do Rio das Pedras ao Serro. - 33 km.



Saímos em direção ao povoado Milho Verde. A vegetação é constituída por campos de altitude entre afloramentos rochosos da Serra do Espinhaço. Eram seqüências de grandes subidas seguidas por estonteantes descidas.

Com o peso dos alforjes é fácil equilibras as bikes empinadas
O nome “Milho Verde” surgiu porque os Bandeirantes quando ali chegaram se depararam com índias que lhe ofereceram refeições preparadas com milho.


Banda Maracutaia que se apresentou na cidade de Milho Verde


Hoje o lugar é procurado por suas cachoeiras e pela vida alternativa que ali se estabeleceu. Paramos em um restaurante que também é um espaço cultural e tivemos a oportunidade de conhecer a banda Maracutaia de BH, que estava ali se apresentando e nos presenteou com algumas músicas do seu repertório.


Piki da Trilha no Caminho Velho da Estrada Real


Três Barras as margens do Rio Jequitinhonha 

Pedalamos pelo Vale do Jequitinhonha sem avistar nenhuma casa até que chegamos a Três Barras, e depois de vários sobes e desces pelo cascalho, passamos por algumas fazendas de gado leiteiro. Logo chagamos ao asfalto e ao Serro que é tido como a capital do queijo de Minas.


Piki da Trilha com dona Aurora Noeli na cidade do Serro
 Almoçamos no Restaurante da Dodóia e por coincidência estava ali a dona Aurora Noeli, a mais talvez a mais antiga cicloturista em atividade no Brasil. Professora aposentada e com 65 anos de idade, há 5 anos pedalando pelo país. Hospedamo-nos na Pousada da Matriz e fomos conhecer a cidade. Sentamos na praça e relembramos alguns momentos divertidos da nossa aventura. A partir daquele ponto eu e Marceleza seguiríamos sozinhos. Elias e Novinho  voltariam no dia seguinte para Brasília.


Piki da Trilha nas escaradias da Matriz do Serro
 
 
Elias se despedindo da nossa aventura


Do Serro à Tapera


Piki da Trilha no Serro
 11/09  -  5º Dia   -   Do Serro à Tapera. - 44 km.


 Ganhamos parafusos e porcas na Chico Motos  pras gambiarras
Despedimo-nos dos companheiros e  paramos numa oficina de motos, a “Chico Motos”. O próprio Chico nos deu alguns parafusos e porcas que poderiam ser úteis em caso de quebra nas bikes ou bagageiros. Seguimos para Itapanhoacanga por uma rodovia de terra e pela primeira vez observamos a presença de mata atlântica ao nosso redor.


Daqui apouco estamos chegando em Tapera

Campos rupestres no caminho de Santo Antônio do Norte - Tapera
O tempo nublado facilitava o pedal e um totem marcava o acesso a cidade. O caminho para  Santo Antônio do Norte (Tapera) é recheado de duras subidas e  descidas traiçoeiras devido ao cascalho solto. Existem na região várias serras de rara beleza, que compõe o maciço da Serra do Espinhaço: Serra do Monteiro, Serra da Escadinha, Serra de Conceição do Mato Dentro e o Pico do Itambé.



Paradas para descanso que facilmente se transformariam em mirantes para a beleza do lugar

Passamos por vários mirantes e descemos uma grande encosta  até chegar na Vila de Tapera, ali nos deparamos com um povoado muito aconchegante e simples. Ficamos instalados na Pousada do Simião e a dona Maria Eni nos preparou um belo jantar. Na pequena Padaria, ao lado, conhecemos o Fabiano, que além de ser o proprietário tem vários projetos de eco-turismo pra região. À noite jogamos uma rápida partida de sinuca e fomos dormir.



Igreja de Tapera



De Tapera à Vila do Tabuleiro

Café da manhã com Dona Eni na Pousada Simião
12/09   -  6º Dia   -   De Tapera à Vila do Tabuleiro. - 72 km.



Cidade de Santo Antônio do Norte - Vila de Tapera

Compramos Eletrolíticos no Fabiano e ganhamos biscoitos de polvilho pra ajudar a repor o sal. Seguimos para o vilarejo de Córregos. Não havia nuvens no céu e o sol já castigava, mas os pastos e as matas tingiam de um verde vivo toda a região.



Matriz de Nossa Senhora Aparecida em Córregos

Ao chegarmos avistamos a matriz de Nossa Senhora Aparecida. A sacristia estava aberta e pudemos ver e fotografar o seu interior. O tempo e a falta de restauração tiram a beleza dos afrescos dos tetos e paredes. Conhecemos um casal paulista que também fazia a ER, porém de carro, e no sentido contrário ao nosso. Conversamos sobre as condições da estrada, do prazer de estarmos ali conhecendo lugares novos e sentindo a história ao alcance dos nossos olhos. Wanderli e Sônia nos ofereceram um pé de moleque que haviam comprado em algum dos lugares que passaram.



Wanderli e Sônia com Marceleza nas escadarias da Matriz

Voltamos a girar na MG 010 no caminho para Conceição do Mato Dentro e no trevo decidimos seguir para o Tabuleiro, a uns 17 km dali. Instalamo-nos na Pousada Rupestre. O proprietário do lugar, o Gil, nos preparou um jantar no seu fogão a lenha e nos deu dicas de passeios nos arredores. Subimos até a Capela de Nossa Senhora do Rosário para conseguirmos sinal para os celulares. Lá também estavam Seu Carlos e Marcelo, moradores de Ouro Branco, hospedados na mesma pousada. Ficaram tão entusiasmados com o vigor de nossa aventura, que nos ofereceram suporte e até pouso em suas casas quando por lá passássemos.

Gil na cosinha da Pousada Rupestre na Vila de Tabuleiro 



Nos arredores da Vila do Tabuleiro


Marceleza  no café preparado pelo Giil da Pousada Rupestre
 13/09 - 7º Dia   -  Nos arredores da Vila do Tabuleiro. - Caminhadas.


O Gil preparou-nos um belo café da manhã composto por, salada de frutas, granola, pães integrais e coalhada.

Visual do Treking até a sede do Parque Estadual do Tabuleiro

O dia estava chuvoso e decidimos por fazer um treking pelo Parque Estadual do Tabuleiro. Após uma hora de caminhada chegamos à sede do Parque, pagamos R$ 5,00 de ingresso já contido ali o seguro contra acidentes.


 
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro


Levamos uns 40 minutos pra chegar à base da cachoeira e mais uns tantos pra entrar na água gelada. A Cachoeira do Tabuleiro é a maior cachoeira do estado de Minas e a terceira maior do país com 273 m de queda. Ao voltarmos para a sede, as torneiras estavam secas, pois a nascente que abastecia a caixa havia secado por causa das queimadas na região e falta de chuvas. 


Paredão da Cachoeira do Tabuleiro que é a maior do estado de Minas Gerais, mas só vemos um fiapo de água escorrendo, devido a seca do lugar

Após o almoço na pousada fomos conhecer o Poço Pari na propriedade do Renato, que é composto por um grande lago, ladeado por uma grossa areia branca, um pequeno cânion com algumas corredeiras e a mata. O lugar possui um camping com banheiro e lanchonete para receber os turistas. Após o jantar ficamos proseando com Gil, Carlos e seu genro Marcelo. Com o frio apertando fomos dormir embebidos com a calmaria do lugar.


Poço Pari

Pouso do Renato





Do Tabuleiro à Serra do Cipó


Ponte de Pedra no caminho para a Serra do Cipó
 14/09   -   8º Dia   -   Do Tabuleiro à Serra do Cipó. - 71 km.



Seu Carlo e o genro na nossa saída da Pousada Rupestre em Tabuleiro

Como a Vila do Tabuleiro não faz parte da ER, voltamos de ônibus para Conceição do Mato Dentro, nos acomodamos com as bikes e alforjes por entre as bolsas, sacolas com galinhas, bananas, farinha e a cada parada mais tralhas da roça. Descemos na frente da Capela Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e saímos em direção a Serra do Cipó. Pedalamos pelo asfalto subindo o altiplano do Maciço do Espinhaço e paramos em uma pequena birosca de beira de estrada. Como de costume despertamos a curiosidade do dono, que atrás do balcão nos perguntou: “Donde ocês vem? E pronde ocês vão?”. Passamos ao lado de antigas pontes de pedra e restos da antiga (ER). Chegamos a Vila da Serra do Cipó no final da tarde através de uma longa descida que corta a Serra Morena. Do alto vimos um grande vale repleto de sítios, casas e pousadas que vão do mais simples camping a sofisticados hotéis com preços de turismo internacional. Lanchamos numa padaria e conhecemos dois outros ciclistas (um deles com uma camisa do Rebas de Cerrado – DF), eram William Corossaca e Toninho, que vinham de BH. O William já tinha morado em Brasília por dois anos e pedalado com o Rebas, ficamos ali conversando sobre lugares e amigos em comum e decidimos que giraríamos juntos pelas trilhas do Parque Estadual. Eles conheciam bem a região o que pra nós foi muito bom, melhor que consultar mapas ou correr atrás de dicas.

Coreto e a pequena igreja são as marcas da religiosidade e da história da ER


Birosca na beira do asfalto do Alpiplano pra chegar na Serra do Cipó

William e Toninho de BH numa padaria da Serra do Cipó junto com o Marceleza